Silêncios terríveis

Dizem tudo.
São aqueles que dizem tudo
Os silêncios terríveis…
Aqueles que desprovidos de som
De palavras ou respirações,
Dizem tudo.

E dizem o que mil palavras,
Mil gritos apontados
Não dizem

Os silêncios terríveis ecoam
Atordoam as certezas,
Abanam as convicções,
Contorcem as verdades que,
Nunca existiram.
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Paulo Marques, 19mar2007

Evasão

Desarranjo-me
Descomponho-me
Desalinho-me
Enfim, desmazelo-me

Na certeza que,
ao passares por mim,
Não me avistes
Não me olhes
Não me observes,
Enfim, não me notes

Encolho-me
Contraio-me
Contenho-me
Enfim, limito-me

E assim passarás
Deixarás o teu odor
Marcarás os teus passos
E suspirarei, de amor.
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Paulo Marques, 13mar07
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(tive uma preciosa ajuda para o título. Obrigado H.)

Sinto

Eu sei, sinto
Sinto que a dor nasce
Aumenta e entranha-se
Dilacera-nos
Num negro que cresce
Por nós a dentro
Seca-nos as veias
Oprime-nos os órgãos
Cria-nos vácuo
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Eu sei, sinto
Que esse vazio
De nada crescente
Semeia mágoas
Suga-nos o amor
Realça-nos o medo
Semeia-nos feridas
Que nos infectam
A alma por inteiro

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Paulo Marques, 10mar07

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(Para que conste: o poema acima escrito não reflecte o meu estado de alma actual. ok? E ainda bem. Bjs e abraços a todos.)

Dias bonitos...

...estes que nos aparecem pela manhã!

Hoje fico por casa, embora me apeteça cumprir os 9 km que me separam do Mar e palmilhar pela praia. Mas... se alguém me explicar o inexplicável, ou seja, como é "possível" a minha casa desarrumar-se tanto e tanto, sozinha! Sim, juro, ela tem essa capacidade. A loiça suja-se aos magotes apesar de eu morar sozinho, a roupa aparece-me a suplicar lavagem (by the way...fiquei a saber ontem que há detergente para roupa escura, específico... [tenho tanto para aprender...]), o chão fica surpreendentemente sujo, o pó reproduz-se tal e qual coelhos impregnados de cio, e muita coisa aparece fora do sítio. Enfim, quase poderia dizer que tudo o que se passa nesta casa está contra mim, contra a minha vontade natural de nada fazer e querer tudo limpinho e arrumado. É pedir muito?! A minha casa deve gostar muito de mim para me querer sempre em volta dela! Só pode. Eu gosto muito dela, mas preferia que tivesse a capacidade (e já que foi tão cara!!!), de se auto-governar!

E foste...

O olhar de soslaio
O andar apressado,
mas retraído

A vontade morta
A necessidade imposta,
em lágrimas

Eu gosto muito de ti, gritaste.
E foste…

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Paulo Marques, 09mar2007

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(acto de amor a que assisti, de coração nas mãos, sem dizer nada, sem poder fazer nada, apenas perceber o quanto alguém faz falta a alguém...)

Conto (experiência)

O Poço e a Lua

Um dia soube.
Soube porque ele me contou. Ele, que falo, é o Poço que alimenta as terras que rodeiam a minha casa. Ele contou-me que se apaixonou pela Lua. Tudo porque ela, em noites limpas, espelhadas de estrelas, se reflecte nas águas calmas do Poço. Ele, embevecido, recebe-a com prazer, deixando-se pratear com o charme luminoso que só a Lua tem. Um dia, pela noitinha, chegando de uma festa próxima, no pico do Verão - noite quente, muito quente – e antes de entrar em casa, apeteceu-me a loucura de sentir água fresca por mim abaixo. Pensei: o Poço! E assim me abeirei dele, e vi, uma linda Lua no meio do Poço. Quando me preparei para lançar o balde, o Poço, numa inexplicável voz que senti falar-me, pediu-me: não!...deixa que a Lua, a minha paixão, descanse na calmaria das minhas águas. Essa voz que não se ouvia, mas que se sentia, cheia de amor, provocou-me uma lágrima que caiu nas águas. Uma ondinha nasceu, provocada pela lágrima. Assustei-me. Não queria abalar a serenidade que o Poço me pedia. Mas nada aconteceu. Círculos perfeitos renovaram a imagem linda da Lua, que brilhante ali permanecia. Olhei mais um pouco e fui para casa. A noite estava quente, muito quente. Deixei-os a namorar. FIM

Paulo Marques Março 2007

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Epá...este conto habita na minha cabeça há muito tempo. Hoje tirei-o de lá e coloquei-o aqui. É muito simples, é uma experiência. Espero que gostem!